Fábio Coimbra[1]
Este trabalho foi apresentado no IX Encontro de Pesquisa em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais
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Resumo
O presente trabalho tem como objetivo
demonstrar a importância e as contribuições do PIBID (Programa Institucional de
Bolsa de iniciação à Docência) da CAPES para os aspirantes à docência do ensino
da filosofia no Ensino Médio. Os pilares sobre os quais este trabalho se
erigirá serão constituídos a partir dos próprios objetivos do programa, como
por exemplo, a “inserção do estudante de Filosofia na escola de ensino básico,
tendo em vista os primeiros contatos com a organização escolar em toda sua
ambiência docente e principalmente discente”. Uma reflexão sobre o ensino da
filosofia a partir de experiências vividas na execução do programa (PIBID) será
desenvolvida considerando a aplicação de um questionário junto a uma turma de
Ensino Médio, cuja pretensão era consultar a opinião dos alunos sobre as aulas
de filosofia. Após a colheita e análise das respostas, levantou-se a hipótese
de que o aprimoramento do ensino da filosofia no Ensino Médio deve, também,
levar em conta a opinião dos alunos no que a isso diz respeito. Igualmente, é
necessário considerar aquilo que constitui o objetivo do ensino da filosofia no
Ensino Médio, tal como expresso no artigo 36 da LDB 9394/96. Em suma, procurar-se-á
demonstrar que se uma das metas da educação é a construção de uma sociedade
melhor, a filosofia pode eficazmente contribuir para isso, algo que a torna –
para alem da contingencia – uma verdadeira necessidade.
Palavras-chaves: PIBID Filosofia, Ensino Médio, Educação, Docência
Disciplinas
complexas e que aparentemente não comportam nenhuma espécie de relevância para
o progresso da ciência, sofrem, em princípio, um descrédito, fruto de um
preconceito oriundo nada mais nada menos que de uma ignorância irremediável
daqueles que, tomando para julgamento das coisas visíveis o critério da
aparência, costumam exaltar um molde de ciência, sociedade, ou humanidade em
detrimento de outros que, obviamente são menosprezados. Esses preconceitos,
somados a uma gama de fatores diversos, contribuem, sem dúvida para o
estabelecimento de dificuldades no que diz respeito à ministração de certas disciplinas.
Uma dessas eventualidades – e que aqui se pode tomar como exemplo – se dá no
caso da disciplina de Filosofia, muitas vezes alvo de crítica e objeto de
desprezo da parte daqueles que acham que ela não serve para nada. Cumpre
ressaltar que esse preconceito para com o ensino da filosofia se observa tanto
no âmbito da educação básica, quanto da superior.
Como
medida para minimização dessa situação, ao menos no nível básico, torna-se
fundamental conhecer o que realmente desperta os interesses dos alunos, bem
como as coisas que mais chamam sua atenção estimulando, desse modo, sua curiosidade
e sua vontade de aprender. O conhecimento daquilo que em princípio constitui os
interesses dos alunos estabelece sem dúvida um ponto de partida fundamental para
a mudança daquela realidade pela qual a filosofia, por exemplo, é concebida
como algo insignificante, ou irrelevante. A meta a ser alcançada consistiria na
obtenção de uma realidade educacional, na qual a filosofia fosse respeitada
como tal, passando a ser vista, portanto, como relevante, desejável,
indispensável e necessária para a construção de uma sociedade diferenciada e, por
conseguinte, de um mundo mais valorado e rico humanamente. Para isso, faz-se
necessário estabelecer pilares que permitam a construção do edifício.
O
primeiro passo rumo a meta pretendida seria diagnosticar o ensino da filosofia
no nível básico com o objetivo de construir, a partir do diagnóstico, um
panorama que permitisse visualizar com precisão as principais dificuldades que
surgem como obstáculo à prática do ensino da filosofia na educação básica.
Sobretudo, no que tange aos problemas de aprendizagem. Tal foi o ponto de
partida do PIBID-Filosofia da UFMA nas escolas-campo [aquelas nas quais o
programa está sendo executado]. Esse trabalho inicial consistiu na aplicação de
um questionário composto de oito perguntas sobre o ensino de filosofia, sendo
seis objetivas e duas dissertativas que foram respondidas pelos alunos. A
partir da colheita e análise das respostas, iniciou-se, então, a interferência
do programa por meio da execução de um projeto de cinema. É válido destacar que
uma das grandezas do questionário reside, por exemplo, no fato dele permitir a
elaboração de planos de aulas que contemplem algumas das opiniões dos alunos
quanto ao que deveria ser a aula de filosofia, e nisso reside, sem dúvida, o
ponto de partida para uma melhora no processo ensino-aprendizagem da filosofia
na educação básica.
Considerando
as respostas obtidas nas questões aplicadas, pode-se dizer que são boas as
expectativas para um melhoramento do ensino da filosofia no contexto do ensino
médio. Com base no que fora respondido, pode ser dito que a aula de filosofia,
atualmente, não está tão longe daqueles fins para os quais ela converge. Evidentemente,
faltam alguns ajustes necessários para o alcance do êxito pretendido.
A resposta à primeira questão – que perguntava
“o que é a aula de filosofia para você?” – permitiu ver a utilidade da
filosofia e a sua ligação com o tecido social que compõem a realidade de cada
um, uma vez que, para a maioria dos alunos [do primeiro ano], a aula de
filosofia é questionar os problemas do dia-a-dia. Daí se infere certa
contextualização dos temas trabalhados em relação ao contexto no qual se tece a
vida cotidiana, considerando elementos, ou fatores diversos.
Na
segunda questão – que perguntava se “o conteúdo da aula de filosofia é bom,
ruim, ou deixa a desejar?” – a resposta parece um tanto agradável quando, segundo
a maioria dos alunos, o conteúdo é referido como bom. Entretanto,
esclarecimentos precisam ser feitos quanto a essa questão, para saber em que
sentido o conteúdo pode ser considerado como realmente bom.
Na
terceira questão – que perguntava “você compreende a aula de filosofia?” – a
maioria dos alunos respondeu que a aula de filosofia é sim compreensível. Na
quarta questão – se “o professor de filosofia utiliza textos filosóficos em
sala de aula?” – a resposta foi consensual entre os alunos, segundo os quais, o
professor utiliza sim textos filosóficos nas aulas.
A
quinta questão, à sua vez, corrobora a resposta da primeira. Naquela, a maioria
dos alunos disse que a aula de filosofia questiona os problemas do dia-a-dia,
nesta, à sua vez, segundo a mesma maioria, com acréscimo de três pontos
percentuais em relação àquela, há sim alguma ligação da aula de filosofia com
suas realidades.
A
sexta questão – em virtude da resposta da maioria dos alunos – passou a ser
mais de caráter metodológico. Ao perguntar “O que chama sua atenção na aula de
filosofia?” a questão trouxe a lume uma preocupação em relação aos meios de
transmissão dos conteúdos a serem trabalhados. De acordo com a maioria dos
alunos o que mais chama a atenção na aula são os recursos utilizados pelo
professor, como, por exemplo, o uso de vídeos. Com base nas justificativas dos
alunos para essas respostas, há uma carência do uso de outros meios, como, por
exemplo, músicas e figuras.
As duas últimas questões, isto é, a sétima e a
oitava, já eram mais de caráter subjetivo, dado que as respostas eram
dissertativas. A sétima – que perguntava “de que forma o professor de filosofia
estimula e desenvolve discussões, ou debates em sala de aula?” – apresentou
respostas que apontam para a necessidade de se aperfeiçoar métodos já usados
como, por exemplo, o uso de tecnologias. Um aspecto importante a ser assinalado
é que, de acordo com a maioria dos alunos, o estímulo do professor para as
discussões e debates se dá por meio de uma boa explicação. Isso se torna
relevante se considerarmos que uma das principais dificuldades em tornar
atrativas as aulas de filosofia pode está no simples fato de que nem sempre o
professor de filosofia é alguém com formação especifica na área, mas apenas
alguém que supre, ou preenche a ausência desse profissional. Desse modo, uma
aula de filosofia que realmente chame a atenção do aluno por meio de uma boa
explicação – levando em consideração as dificuldades em se entender e, muitas
vezes, explicar o texto filosófico, ou o pensamento de um autor – seria de
competência exclusiva do profissional com formação especifica em filosofia.
Assim
como a sétima, a oitava e última questão, à sua vez, ao questionar “como você
gostaria que fosse a aula de filosofia?” também trouxe respostas que apontam
para a necessidade de melhoramento dos procedimentos didáticos. Diante da
diversidade das respostas devido ao caráter dissertativo da questão, cabe
destacar algumas respostas dos alunos, as quais foram organizadas em grupos.
Nesse sentido, a maioria da turma teria respondido que seria bom que a aula
continuasse como está. Outra parcela considerável de alunos teria dito que
gostaria que a aula de filosofia fosse com mais recursos tecnológicos. Nota-se
aqui que o uso de tecnologias parece ser uma das coisas que mais chama a
atenção dos alunos.
Diante
de tudo isso, é interessante notar como algumas questões estão diretamente
ligadas a outras. Obviamente, a grandeza do questionário reside no fato dele
funcionar como um mapa no qual se podem perceber as diversas situações que
permeiam a realidade da escola da educação básica da sociedade brasileira [claro,
numa visão indutiva]. Cumpre relevar que o questionário ainda pode ser
melhorado para fins de obtenção de dados mais precisos. Não obstante, cabe
destacar que ele representa um ponto de partida, um pontapé inicial dado rumo
às transformações, então, desejadas [como no caso do PIBID com a sua proposta
de interferência].
Seria
interessante também atrelar a esse procedimento alguns dos princípios já estabelecidos
no PPP [Projeto Político Pedagógico] das escolas. Alem disso, seria relevante
tomar ciência daquilo que, em suma, constitui o objetivo primordial do ensino
da filosofia no ensino médio, tal como disposto no artigo 36 da LDB. Igualmente
seria relevante ter claro o objetivo da educação básica, disposto no artigo 22
da mesma lei. Daí seria importante primeiro tomar conhecimento, se não total,
pelo menos parcial, da LDB, uma vez que é ela que disciplina a educação
escolar, conforme redação do artigo segundo. Pode-se dizer que a carência de
conhecimento desses dois elementos (PPP e LDB), representa o vazio de uma
marcha que conduz para o nada. Afinal, toda proposta que se pretende chegar a
um determinado ponto, deve ter evidentemente um ponto do qual possa se dar a
partida. Obviamente, “tudo que tem um começo deve ter um fim”. Cremos que a
eficiência como ápice e fim da educação deva ter por começo as considerações
sobre as bases reais já solidamente construídas. Não obstante, é necessário
suprimir e inovar, tanto quanto for preciso, na medida em que isso se mostrar
imprescindível, desejável e plausível para a construção de uma educação melhor;
que mude de mentalidade; que introduza o pensamento crítico; que construa
homens melhores; que traga a lume uma nova sociedade; um novo mundo; que erija
valores; que construa pontes que liguem os diversos mundos, os diversos povos,
as diversas culturas.
É
preciso perceber que por a trás de toda a aparência subjaz a verdadeira
realidade, e que nos submundos das mutações reside a essência, aquilo que
consideramos necessário em um ser para que ele seja aquilo que é. Também faz
jus perceber que por trás de toda a realidade; que por trás do preto e do
branco, que por traz do alto e do baixo, que por traz do forte e do fraco está
aqueles pano de fundo que destaca a figura de cada homem; critério único;
medida única, mediante a qual a grandeza de cada ser deve ser medida. Esse engenhoso pano de fundo chama-se:
educação, obra magnífica resultante da soma de fatores diversos.
[1] Graduando em Filosofia pela Universidade
Federal do Maranhão; bolsista da CAPES com atuação no Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.
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