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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO PIBID / CAPES / UFMA


Fábio Coimbra[1]
Este trabalho foi apresentado no IX Encontro de Pesquisa em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais 
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Resumo
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância e as contribuições do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de iniciação à Docência) da CAPES para os aspirantes à docência do ensino da filosofia no Ensino Médio. Os pilares sobre os quais este trabalho se erigirá serão constituídos a partir dos próprios objetivos do programa, como por exemplo, a “inserção do estudante de Filosofia na escola de ensino básico, tendo em vista os primeiros contatos com a organização escolar em toda sua ambiência docente e principalmente discente”. Uma reflexão sobre o ensino da filosofia a partir de experiências vividas na execução do programa (PIBID) será desenvolvida considerando a aplicação de um questionário junto a uma turma de Ensino Médio, cuja pretensão era consultar a opinião dos alunos sobre as aulas de filosofia. Após a colheita e análise das respostas, levantou-se a hipótese de que o aprimoramento do ensino da filosofia no Ensino Médio deve, também, levar em conta a opinião dos alunos no que a isso diz respeito. Igualmente, é necessário considerar aquilo que constitui o objetivo do ensino da filosofia no Ensino Médio, tal como expresso no artigo 36 da LDB 9394/96. Em suma, procurar-se-á demonstrar que se uma das metas da educação é a construção de uma sociedade melhor, a filosofia pode eficazmente contribuir para isso, algo que a torna – para alem da contingencia – uma verdadeira necessidade.

Palavras-chaves: PIBID Filosofia, Ensino Médio, Educação, Docência 


Disciplinas complexas e que aparentemente não comportam nenhuma espécie de relevância para o progresso da ciência, sofrem, em princípio, um descrédito, fruto de um preconceito oriundo nada mais nada menos que de uma ignorância irremediável daqueles que, tomando para julgamento das coisas visíveis o critério da aparência, costumam exaltar um molde de ciência, sociedade, ou humanidade em detrimento de outros que, obviamente são menosprezados. Esses preconceitos, somados a uma gama de fatores diversos, contribuem, sem dúvida para o estabelecimento de dificuldades no que diz respeito à ministração de certas disciplinas. Uma dessas eventualidades – e que aqui se pode tomar como exemplo – se dá no caso da disciplina de Filosofia, muitas vezes alvo de crítica e objeto de desprezo da parte daqueles que acham que ela não serve para nada. Cumpre ressaltar que esse preconceito para com o ensino da filosofia se observa tanto no âmbito da educação básica, quanto da superior.
Como medida para minimização dessa situação, ao menos no nível básico, torna-se fundamental conhecer o que realmente desperta os interesses dos alunos, bem como as coisas que mais chamam sua atenção estimulando, desse modo, sua curiosidade e sua vontade de aprender. O conhecimento daquilo que em princípio constitui os interesses dos alunos estabelece sem dúvida um ponto de partida fundamental para a mudança daquela realidade pela qual a filosofia, por exemplo, é concebida como algo insignificante, ou irrelevante. A meta a ser alcançada consistiria na obtenção de uma realidade educacional, na qual a filosofia fosse respeitada como tal, passando a ser vista, portanto, como relevante, desejável, indispensável e necessária para a construção de uma sociedade diferenciada e, por conseguinte, de um mundo mais valorado e rico humanamente. Para isso, faz-se necessário estabelecer pilares que permitam a construção do edifício.
O primeiro passo rumo a meta pretendida seria diagnosticar o ensino da filosofia no nível básico com o objetivo de construir, a partir do diagnóstico, um panorama que permitisse visualizar com precisão as principais dificuldades que surgem como obstáculo à prática do ensino da filosofia na educação básica. Sobretudo, no que tange aos problemas de aprendizagem. Tal foi o ponto de partida do PIBID-Filosofia da UFMA nas escolas-campo [aquelas nas quais o programa está sendo executado]. Esse trabalho inicial consistiu na aplicação de um questionário composto de oito perguntas sobre o ensino de filosofia, sendo seis objetivas e duas dissertativas que foram respondidas pelos alunos. A partir da colheita e análise das respostas, iniciou-se, então, a interferência do programa por meio da execução de um projeto de cinema. É válido destacar que uma das grandezas do questionário reside, por exemplo, no fato dele permitir a elaboração de planos de aulas que contemplem algumas das opiniões dos alunos quanto ao que deveria ser a aula de filosofia, e nisso reside, sem dúvida, o ponto de partida para uma melhora no processo ensino-aprendizagem da filosofia na educação básica.
Considerando as respostas obtidas nas questões aplicadas, pode-se dizer que são boas as expectativas para um melhoramento do ensino da filosofia no contexto do ensino médio. Com base no que fora respondido, pode ser dito que a aula de filosofia, atualmente, não está tão longe daqueles fins para os quais ela converge. Evidentemente, faltam alguns ajustes necessários para o alcance do êxito pretendido.
 A resposta à primeira questão – que perguntava “o que é a aula de filosofia para você?” – permitiu ver a utilidade da filosofia e a sua ligação com o tecido social que compõem a realidade de cada um, uma vez que, para a maioria dos alunos [do primeiro ano], a aula de filosofia é questionar os problemas do dia-a-dia. Daí se infere certa contextualização dos temas trabalhados em relação ao contexto no qual se tece a vida cotidiana, considerando elementos, ou fatores diversos.
Na segunda questão – que perguntava se “o conteúdo da aula de filosofia é bom, ruim, ou deixa a desejar?” – a resposta parece um tanto agradável quando, segundo a maioria dos alunos, o conteúdo é referido como bom. Entretanto, esclarecimentos precisam ser feitos quanto a essa questão, para saber em que sentido o conteúdo pode ser considerado como realmente bom.
Na terceira questão – que perguntava “você compreende a aula de filosofia?” – a maioria dos alunos respondeu que a aula de filosofia é sim compreensível. Na quarta questão – se “o professor de filosofia utiliza textos filosóficos em sala de aula?” – a resposta foi consensual entre os alunos, segundo os quais, o professor utiliza sim textos filosóficos nas aulas.
A quinta questão, à sua vez, corrobora a resposta da primeira. Naquela, a maioria dos alunos disse que a aula de filosofia questiona os problemas do dia-a-dia, nesta, à sua vez, segundo a mesma maioria, com acréscimo de três pontos percentuais em relação àquela, há sim alguma ligação da aula de filosofia com suas realidades.
A sexta questão – em virtude da resposta da maioria dos alunos – passou a ser mais de caráter metodológico. Ao perguntar “O que chama sua atenção na aula de filosofia?” a questão trouxe a lume uma preocupação em relação aos meios de transmissão dos conteúdos a serem trabalhados. De acordo com a maioria dos alunos o que mais chama a atenção na aula são os recursos utilizados pelo professor, como, por exemplo, o uso de vídeos. Com base nas justificativas dos alunos para essas respostas, há uma carência do uso de outros meios, como, por exemplo, músicas e figuras.
 As duas últimas questões, isto é, a sétima e a oitava, já eram mais de caráter subjetivo, dado que as respostas eram dissertativas. A sétima – que perguntava “de que forma o professor de filosofia estimula e desenvolve discussões, ou debates em sala de aula?” – apresentou respostas que apontam para a necessidade de se aperfeiçoar métodos já usados como, por exemplo, o uso de tecnologias. Um aspecto importante a ser assinalado é que, de acordo com a maioria dos alunos, o estímulo do professor para as discussões e debates se dá por meio de uma boa explicação. Isso se torna relevante se considerarmos que uma das principais dificuldades em tornar atrativas as aulas de filosofia pode está no simples fato de que nem sempre o professor de filosofia é alguém com formação especifica na área, mas apenas alguém que supre, ou preenche a ausência desse profissional. Desse modo, uma aula de filosofia que realmente chame a atenção do aluno por meio de uma boa explicação – levando em consideração as dificuldades em se entender e, muitas vezes, explicar o texto filosófico, ou o pensamento de um autor – seria de competência exclusiva do profissional com formação especifica em filosofia.
Assim como a sétima, a oitava e última questão, à sua vez, ao questionar “como você gostaria que fosse a aula de filosofia?” também trouxe respostas que apontam para a necessidade de melhoramento dos procedimentos didáticos. Diante da diversidade das respostas devido ao caráter dissertativo da questão, cabe destacar algumas respostas dos alunos, as quais foram organizadas em grupos. Nesse sentido, a maioria da turma teria respondido que seria bom que a aula continuasse como está. Outra parcela considerável de alunos teria dito que gostaria que a aula de filosofia fosse com mais recursos tecnológicos. Nota-se aqui que o uso de tecnologias parece ser uma das coisas que mais chama a atenção dos alunos.
Diante de tudo isso, é interessante notar como algumas questões estão diretamente ligadas a outras. Obviamente, a grandeza do questionário reside no fato dele funcionar como um mapa no qual se podem perceber as diversas situações que permeiam a realidade da escola da educação básica da sociedade brasileira [claro, numa visão indutiva]. Cumpre relevar que o questionário ainda pode ser melhorado para fins de obtenção de dados mais precisos. Não obstante, cabe destacar que ele representa um ponto de partida, um pontapé inicial dado rumo às transformações, então, desejadas [como no caso do PIBID com a sua proposta de interferência].
Seria interessante também atrelar a esse procedimento alguns dos princípios já estabelecidos no PPP [Projeto Político Pedagógico] das escolas. Alem disso, seria relevante tomar ciência daquilo que, em suma, constitui o objetivo primordial do ensino da filosofia no ensino médio, tal como disposto no artigo 36 da LDB. Igualmente seria relevante ter claro o objetivo da educação básica, disposto no artigo 22 da mesma lei. Daí seria importante primeiro tomar conhecimento, se não total, pelo menos parcial, da LDB, uma vez que é ela que disciplina a educação escolar, conforme redação do artigo segundo. Pode-se dizer que a carência de conhecimento desses dois elementos (PPP e LDB), representa o vazio de uma marcha que conduz para o nada. Afinal, toda proposta que se pretende chegar a um determinado ponto, deve ter evidentemente um ponto do qual possa se dar a partida. Obviamente, “tudo que tem um começo deve ter um fim”. Cremos que a eficiência como ápice e fim da educação deva ter por começo as considerações sobre as bases reais já solidamente construídas. Não obstante, é necessário suprimir e inovar, tanto quanto for preciso, na medida em que isso se mostrar imprescindível, desejável e plausível para a construção de uma educação melhor; que mude de mentalidade; que introduza o pensamento crítico; que construa homens melhores; que traga a lume uma nova sociedade; um novo mundo; que erija valores; que construa pontes que liguem os diversos mundos, os diversos povos, as diversas culturas.
É preciso perceber que por a trás de toda a aparência subjaz a verdadeira realidade, e que nos submundos das mutações reside a essência, aquilo que consideramos necessário em um ser para que ele seja aquilo que é. Também faz jus perceber que por trás de toda a realidade; que por trás do preto e do branco, que por traz do alto e do baixo, que por traz do forte e do fraco está aqueles pano de fundo que destaca a figura de cada homem; critério único; medida única, mediante a qual a grandeza de cada ser deve ser medida.  Esse engenhoso pano de fundo chama-se: educação, obra magnífica resultante da soma de fatores diversos. 


[1] Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão; bolsista da CAPES com atuação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.

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