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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE O ART. 6 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O ART. 2 DA LDB[1]



Fabio Coimbra[2]

Nos termos do Artigo 6 (seis) da Constituição Federal a educação é definida como um direito social. Trata-se de um direito de todos, tendo como promotores o Estado e a família.
À sua vez, o Artigo 2 (dois) da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) os ideais nos quais a educação se inspira, quais sejam, os de liberdade e solidariedade humana; determina também os fins da educação que consistem em: desenvolvimento do educando, sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.


[1] Disponível em: philosofiaeciencia.blogspot.com
[2] Acadêmico de Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão 

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO A PARTIR DO PIBID / CAPES / UFMA


Fábio Coimbra[1]
Este trabalho foi apresentado no IX Encontro de Pesquisa em Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais 
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Resumo
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância e as contribuições do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de iniciação à Docência) da CAPES para os aspirantes à docência do ensino da filosofia no Ensino Médio. Os pilares sobre os quais este trabalho se erigirá serão constituídos a partir dos próprios objetivos do programa, como por exemplo, a “inserção do estudante de Filosofia na escola de ensino básico, tendo em vista os primeiros contatos com a organização escolar em toda sua ambiência docente e principalmente discente”. Uma reflexão sobre o ensino da filosofia a partir de experiências vividas na execução do programa (PIBID) será desenvolvida considerando a aplicação de um questionário junto a uma turma de Ensino Médio, cuja pretensão era consultar a opinião dos alunos sobre as aulas de filosofia. Após a colheita e análise das respostas, levantou-se a hipótese de que o aprimoramento do ensino da filosofia no Ensino Médio deve, também, levar em conta a opinião dos alunos no que a isso diz respeito. Igualmente, é necessário considerar aquilo que constitui o objetivo do ensino da filosofia no Ensino Médio, tal como expresso no artigo 36 da LDB 9394/96. Em suma, procurar-se-á demonstrar que se uma das metas da educação é a construção de uma sociedade melhor, a filosofia pode eficazmente contribuir para isso, algo que a torna – para alem da contingencia – uma verdadeira necessidade.

Palavras-chaves: PIBID Filosofia, Ensino Médio, Educação, Docência 


Disciplinas complexas e que aparentemente não comportam nenhuma espécie de relevância para o progresso da ciência, sofrem, em princípio, um descrédito, fruto de um preconceito oriundo nada mais nada menos que de uma ignorância irremediável daqueles que, tomando para julgamento das coisas visíveis o critério da aparência, costumam exaltar um molde de ciência, sociedade, ou humanidade em detrimento de outros que, obviamente são menosprezados. Esses preconceitos, somados a uma gama de fatores diversos, contribuem, sem dúvida para o estabelecimento de dificuldades no que diz respeito à ministração de certas disciplinas. Uma dessas eventualidades – e que aqui se pode tomar como exemplo – se dá no caso da disciplina de Filosofia, muitas vezes alvo de crítica e objeto de desprezo da parte daqueles que acham que ela não serve para nada. Cumpre ressaltar que esse preconceito para com o ensino da filosofia se observa tanto no âmbito da educação básica, quanto da superior.
Como medida para minimização dessa situação, ao menos no nível básico, torna-se fundamental conhecer o que realmente desperta os interesses dos alunos, bem como as coisas que mais chamam sua atenção estimulando, desse modo, sua curiosidade e sua vontade de aprender. O conhecimento daquilo que em princípio constitui os interesses dos alunos estabelece sem dúvida um ponto de partida fundamental para a mudança daquela realidade pela qual a filosofia, por exemplo, é concebida como algo insignificante, ou irrelevante. A meta a ser alcançada consistiria na obtenção de uma realidade educacional, na qual a filosofia fosse respeitada como tal, passando a ser vista, portanto, como relevante, desejável, indispensável e necessária para a construção de uma sociedade diferenciada e, por conseguinte, de um mundo mais valorado e rico humanamente. Para isso, faz-se necessário estabelecer pilares que permitam a construção do edifício.
O primeiro passo rumo a meta pretendida seria diagnosticar o ensino da filosofia no nível básico com o objetivo de construir, a partir do diagnóstico, um panorama que permitisse visualizar com precisão as principais dificuldades que surgem como obstáculo à prática do ensino da filosofia na educação básica. Sobretudo, no que tange aos problemas de aprendizagem. Tal foi o ponto de partida do PIBID-Filosofia da UFMA nas escolas-campo [aquelas nas quais o programa está sendo executado]. Esse trabalho inicial consistiu na aplicação de um questionário composto de oito perguntas sobre o ensino de filosofia, sendo seis objetivas e duas dissertativas que foram respondidas pelos alunos. A partir da colheita e análise das respostas, iniciou-se, então, a interferência do programa por meio da execução de um projeto de cinema. É válido destacar que uma das grandezas do questionário reside, por exemplo, no fato dele permitir a elaboração de planos de aulas que contemplem algumas das opiniões dos alunos quanto ao que deveria ser a aula de filosofia, e nisso reside, sem dúvida, o ponto de partida para uma melhora no processo ensino-aprendizagem da filosofia na educação básica.
Considerando as respostas obtidas nas questões aplicadas, pode-se dizer que são boas as expectativas para um melhoramento do ensino da filosofia no contexto do ensino médio. Com base no que fora respondido, pode ser dito que a aula de filosofia, atualmente, não está tão longe daqueles fins para os quais ela converge. Evidentemente, faltam alguns ajustes necessários para o alcance do êxito pretendido.
 A resposta à primeira questão – que perguntava “o que é a aula de filosofia para você?” – permitiu ver a utilidade da filosofia e a sua ligação com o tecido social que compõem a realidade de cada um, uma vez que, para a maioria dos alunos [do primeiro ano], a aula de filosofia é questionar os problemas do dia-a-dia. Daí se infere certa contextualização dos temas trabalhados em relação ao contexto no qual se tece a vida cotidiana, considerando elementos, ou fatores diversos.
Na segunda questão – que perguntava se “o conteúdo da aula de filosofia é bom, ruim, ou deixa a desejar?” – a resposta parece um tanto agradável quando, segundo a maioria dos alunos, o conteúdo é referido como bom. Entretanto, esclarecimentos precisam ser feitos quanto a essa questão, para saber em que sentido o conteúdo pode ser considerado como realmente bom.
Na terceira questão – que perguntava “você compreende a aula de filosofia?” – a maioria dos alunos respondeu que a aula de filosofia é sim compreensível. Na quarta questão – se “o professor de filosofia utiliza textos filosóficos em sala de aula?” – a resposta foi consensual entre os alunos, segundo os quais, o professor utiliza sim textos filosóficos nas aulas.
A quinta questão, à sua vez, corrobora a resposta da primeira. Naquela, a maioria dos alunos disse que a aula de filosofia questiona os problemas do dia-a-dia, nesta, à sua vez, segundo a mesma maioria, com acréscimo de três pontos percentuais em relação àquela, há sim alguma ligação da aula de filosofia com suas realidades.
A sexta questão – em virtude da resposta da maioria dos alunos – passou a ser mais de caráter metodológico. Ao perguntar “O que chama sua atenção na aula de filosofia?” a questão trouxe a lume uma preocupação em relação aos meios de transmissão dos conteúdos a serem trabalhados. De acordo com a maioria dos alunos o que mais chama a atenção na aula são os recursos utilizados pelo professor, como, por exemplo, o uso de vídeos. Com base nas justificativas dos alunos para essas respostas, há uma carência do uso de outros meios, como, por exemplo, músicas e figuras.
 As duas últimas questões, isto é, a sétima e a oitava, já eram mais de caráter subjetivo, dado que as respostas eram dissertativas. A sétima – que perguntava “de que forma o professor de filosofia estimula e desenvolve discussões, ou debates em sala de aula?” – apresentou respostas que apontam para a necessidade de se aperfeiçoar métodos já usados como, por exemplo, o uso de tecnologias. Um aspecto importante a ser assinalado é que, de acordo com a maioria dos alunos, o estímulo do professor para as discussões e debates se dá por meio de uma boa explicação. Isso se torna relevante se considerarmos que uma das principais dificuldades em tornar atrativas as aulas de filosofia pode está no simples fato de que nem sempre o professor de filosofia é alguém com formação especifica na área, mas apenas alguém que supre, ou preenche a ausência desse profissional. Desse modo, uma aula de filosofia que realmente chame a atenção do aluno por meio de uma boa explicação – levando em consideração as dificuldades em se entender e, muitas vezes, explicar o texto filosófico, ou o pensamento de um autor – seria de competência exclusiva do profissional com formação especifica em filosofia.
Assim como a sétima, a oitava e última questão, à sua vez, ao questionar “como você gostaria que fosse a aula de filosofia?” também trouxe respostas que apontam para a necessidade de melhoramento dos procedimentos didáticos. Diante da diversidade das respostas devido ao caráter dissertativo da questão, cabe destacar algumas respostas dos alunos, as quais foram organizadas em grupos. Nesse sentido, a maioria da turma teria respondido que seria bom que a aula continuasse como está. Outra parcela considerável de alunos teria dito que gostaria que a aula de filosofia fosse com mais recursos tecnológicos. Nota-se aqui que o uso de tecnologias parece ser uma das coisas que mais chama a atenção dos alunos.
Diante de tudo isso, é interessante notar como algumas questões estão diretamente ligadas a outras. Obviamente, a grandeza do questionário reside no fato dele funcionar como um mapa no qual se podem perceber as diversas situações que permeiam a realidade da escola da educação básica da sociedade brasileira [claro, numa visão indutiva]. Cumpre relevar que o questionário ainda pode ser melhorado para fins de obtenção de dados mais precisos. Não obstante, cabe destacar que ele representa um ponto de partida, um pontapé inicial dado rumo às transformações, então, desejadas [como no caso do PIBID com a sua proposta de interferência].
Seria interessante também atrelar a esse procedimento alguns dos princípios já estabelecidos no PPP [Projeto Político Pedagógico] das escolas. Alem disso, seria relevante tomar ciência daquilo que, em suma, constitui o objetivo primordial do ensino da filosofia no ensino médio, tal como disposto no artigo 36 da LDB. Igualmente seria relevante ter claro o objetivo da educação básica, disposto no artigo 22 da mesma lei. Daí seria importante primeiro tomar conhecimento, se não total, pelo menos parcial, da LDB, uma vez que é ela que disciplina a educação escolar, conforme redação do artigo segundo. Pode-se dizer que a carência de conhecimento desses dois elementos (PPP e LDB), representa o vazio de uma marcha que conduz para o nada. Afinal, toda proposta que se pretende chegar a um determinado ponto, deve ter evidentemente um ponto do qual possa se dar a partida. Obviamente, “tudo que tem um começo deve ter um fim”. Cremos que a eficiência como ápice e fim da educação deva ter por começo as considerações sobre as bases reais já solidamente construídas. Não obstante, é necessário suprimir e inovar, tanto quanto for preciso, na medida em que isso se mostrar imprescindível, desejável e plausível para a construção de uma educação melhor; que mude de mentalidade; que introduza o pensamento crítico; que construa homens melhores; que traga a lume uma nova sociedade; um novo mundo; que erija valores; que construa pontes que liguem os diversos mundos, os diversos povos, as diversas culturas.
É preciso perceber que por a trás de toda a aparência subjaz a verdadeira realidade, e que nos submundos das mutações reside a essência, aquilo que consideramos necessário em um ser para que ele seja aquilo que é. Também faz jus perceber que por trás de toda a realidade; que por trás do preto e do branco, que por traz do alto e do baixo, que por traz do forte e do fraco está aqueles pano de fundo que destaca a figura de cada homem; critério único; medida única, mediante a qual a grandeza de cada ser deve ser medida.  Esse engenhoso pano de fundo chama-se: educação, obra magnífica resultante da soma de fatores diversos. 


[1] Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão; bolsista da CAPES com atuação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID.

Resenha do livro "O ENSINO DE FILOSOFIA COMO PROBLEMA FILOSÓFICO"


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CERLETTI, Alejandro. O ensino de filosofia: como problema filosófico. Tradução de Ingrid Müller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 101 p.
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FÁBIO COIMBRA
Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão
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Sob a autoria de Alejandro Cerletti, o livro em questão tem como propósito discorrer sobre a implementação de alguns recursos didáticos planejados no sentido de facilitar a atividade docente, como o autor bem destaca ainda na introdução: “o ponto de início será refletir sobre o problema que está na base: que se entende por ensinar filosofia e como se poderia transmitir algo cuja identificação é já um problema filosófico”. Nesse contexto, chama-se a atenção para uma série de decisões que a partir daí deverão ser tomadas. O autor em alguns momentos se limita a definir como (ou quem) seriam os melhores professores. Nessa perspectiva, partindo do princípio de que “ensinar implica assumir um compromisso e uma responsabilidade muito grande, Cerletti afirma que “um bom docente será aquele que se situa a altura dessa responsabilidade [...].” Argumenta também que “os melhores professores são aqueles capazes de ensinar em condições diversas”. Significa isso que terão que repensar sempre “no seu dia a dia os próprios conhecimentos”.
Uma questão indubitavelmente relevante que Cerletti levanta é esta: “é evidente que não é o mesmo ‘dar aulas’ de filosofia em uma escola de uma zona socialmente muito castigada da periferia suburbana do que em um colégio urbano de classe alta ou em uma escola rural do interior do país [...] porque em função desses contextos, não será o mesmo em cada caso o que se pode – ou se deve – fazer em nome da filosofia”. [p. 7-8]. Este é sem dúvida um momento muito feliz da argumentação do autor porque aponta para a complexidade da realidade na qual se dá, ou se desenvolve o processo ensino/aprendizagem. E é por essa razão que ele argumenta que “o ensino de filosofia implica uma atualização cotidiana de múltiplos elementos que envolvem de maneira singular seus protagonistas, a filosofia posta em jogo e o contexto em que esse ensino tem lugar.” [p. 8].
Outro ponto [ou argumento] de destaque é quando Cerletti diz que “o ensino da filosofia é basicamente uma construção subjetiva, apoiada em uma série de elementos objetivos e conjunturais”. [p. 8]. A relevância disso consiste na possibilidade de se entender por “elementos objetivos” a realidade própria de cada um. E nessa perspectiva, o autor diz que “um bom professor é aquele capaz de levar adiante de forma ativa e criativa, essa construção”. [p. 8].
Em suma, pode-se dizer que – em geral – o propósito do livro é [como diz o autor] “convidar o leitor a refletir sobre algumas questões conceituais que são postas ao ensino da filosofia”.
Quanto à estrutura, o livro se compõe de sete capítulos. O primeiro [Que é ensinar filosofia?] busca defender a idéia de que não se separa a filosofia do filosofar, e que o filosofar se sustenta na tensão da pergunta filosófica. No seu desdobramento, o capítulo mostra que tradicionalmente a filosofia foi pensada no sentido de ser o seu ensino algo transmissível, o que nos tempos modernos deixara de acontecer. Nesse com texto, o autor argumenta que só se pode ensinar filosofia a partir de algum lugar e certas perspectivas. Fechando o primeiro capítulo, Cerletti vai argumentar que as obras dos filósofos, na verdade, são respostas que eles se deram, ou deram aos questionamentos que se faziam questionamentos esses que na maioria das vezes estão atrelados ao seu contexto.
No segundo capítulo [O perguntar filosófico e atitude filosófica] o que está em discussão é mais o perguntar que a atitude. Nesse aspecto Cerletti diz que “um curso filosófico deveria ser um campo fértil para o perguntar da filosofia”. No sentido da pergunta, o autor questiona sobre o que é que distingue a pergunta filosófica das demais, e argumenta que esse diferencial está na intencionalidade daquele que pergunta e não no perguntar em si. No decorre do capítulo, o autor vai dizer ainda que a pergunta filosófica não se esgota na primeira resposta adquirida. Nesse sentido diz que “A intencionalidade da pergunta se enraíza na aspiração ao saber.” Cremos que um dos pontos mais relevantes da argumentação do autor é quando ele diz que “o ensino filosófico deveria voltar-se [...] para as condições de possibilidade das perguntas filosóficas.” [p. 25-26]. De acordo com o autor, “o que move alguém a filosofar é o desafio de ter que dar conta, de uma distância ou de um vazio que nunca é preenchido, satisfeito.”. 
No terceiro capítulo [Repetição e criação na filosofia e em seu ensino], o autor chama a atenção para a importância da “análise daquilo que se pode ensinar em nome do pensar crítico e criativo em qualquer ensino de filosofia”. Nesse sentido, ele argumenta sobre a impossibilidade de se criar a partir do nada. O que significa que sempre se parte de alguma coisa, corroborando o que já fora dito anteriormente. Cerletti diz que o que os filósofos fazem é “re-criar os seus temas e reconstruir os seus problemas.” [p. 32]. Para isso, o filosofo deve se voltar para o passado, mas, sem perder de vista a dimensão do futuro, “porque desdobra um olhar que inventa novos questionamentos”. [p. 32]. O autor considera ainda que a repetição é positiva na filosofia na medida em que “é condição de possibilidade de criação, ou seja do aparecimento de algo diferente”. [p. 33]. Cerletti chama a atenção também para o fato de que o ensino de filosofia vai alem da trasladação dos saberes tradicionais. Nesse aspecto, o que faz com que um ensino de filosofia seja filosófico é o fato “desses saberes serem revisados no contexto de uma aula.” [p. 34]. Novamente o autor insiste no fato de que não se separa a filosofia do filosofar: “ensinaremos filosofia no ato de filosofar e aprender-se-ia filosofia começando a filosofar”. [p. 36].
No quarto capitulo [Porque ensinar filosofia], Cerletti afirmar que essa pergunta conduz a outra, qual seja, “pára que ‘serve’ a filosofia?” responder a essas perguntas significa já está filosofando, ou ainda, fazendo filosofia como ele mesmo diz retomando um argumento já descrito: “a possibilidade de uma resposta [...] introduz-nos em cheio no terreno filosófico”. [p. 42]. De acordo com o autor, a justificativa a esses tipos de questionamentos [sobre o sentido da filosofia nas escolas] é uma tarefa que deve ser feita com muito cuidado “juntos aos diversos saberes e atividades de nossa vida de hoje”. [p. 43]. Quanto ao questionamento primeiro, Cerletti diz que nos tempos antigos a filosofia já havia se expressado, ou ainda, “demonstrado um gesto defensivo diante dos questionamentos que apontam a sua inutilidade.” [p. 44]. Quanto a pergunta referente ao valor da filosofia, o autor chama a atenção para o risco que se corre de atrelá-la ao mercado que preza sobretudo pelo valor de circulação da mercadoria. Essa reflexão de Cerletti é relevante por que nos ajuda a entender que o descrédito para com a filosofia pode vir muitas vezes – como de fato vem – daqueles que estão mais preocupados com a aquisição de riquezas materiais caracterizadas por seus valores elevados do que da parte daqueles que estão de fato preocupados com as reais transformações de um mundo desumano em catástrofes sócias, por exemplo.

Nos tempos em que vivemos, a palavra “utilidade” está associada, fundamentalmente, com um valor de mercado, e relacioná-la com a filosofia significaria estabelecer como a filosofia poderia instalar-se dentro desse mundo de circulação de mercadoria, dentro de sua produção e reprodução. [p. 46]


  Nesse sentido, é preciso ser prudente ao tentar-se definir a filosofia num contexto onde tudo se volta para o mercado. Pois, poderíamos correr o risco de diluir o seu verdadeiro significado e deturpar seu real sentido. Entretanto, de acordo com Cerletti, não se pode desprezar os demais saberes em proveito da filosofia. É preciso, antes de tudo, reconhecer suas importâncias como sendo para a filosofia a “base de sua reflexão”. [p. 52].
No quinto capítulo [A formação docente: entre professores e filósofos], Cerletti discorre sobre como deve [ou deveria] ser [ou se dar] a formação do professor de filosofia. Para tanto, ele parte do princípio de que “Um professor de filosofia não ‘se forma’ tão somente ao adquirir alguns conteúdos filosóficos e pedagógicos, [mas] vai-se aprendendo a ser professor desde o momento em que se começa a ser aluno” [p.55]. Ou seja, nessa concepção, não há em específico um ponto que demarque aonde começa a verdadeira formação docente. Nesse sentido, seria relevante que o alunato [desde o início de sua vida como estudante] já se dedicasse ao máximo à vida de estudos. Nessa perspectiva, se justifica o “porque” de muitas vezes nos depararmos com esta ou aquela falha do professor, falhas essas que muitas vezes pode comprometer o aprendizado. É nesse sentido que o autor argumenta que “se é como docente o aluno que se foi”. [p. 55]. O autor chama a atenção para o fato de que, em princípio, a formação e a prática docente podem estar – até certo ponto – desorientadas. Isso, entretanto, não se trata de um problema crucial, mas decorre [ou pode decorre] simplesmente do fato do repertório do professor ainda está refletindo o amontoado de conteúdos vistos na graduação. Esses conteúdos e similares, de acordo com o autor, não podem ser abandonados:

O componente real do equipamento pedagógico que um professor dispõe para a sua prática é constituído, então, por aquele conjunto de teorias implícitas, valores e crenças pedagógicas que formam um a priori que não deixar de ser levado em conta. [p. 57].


É nesse aspecto que o autor vai argumentar que “não é possível cifrar todas as expectativas da formação docente no momento inicial [...], mas, deve se pensar também nos momentos anteriores [...] e posteriores”. [p. 57]. Cerletti chama a atenção ainda para o fato de que a análise de toda atividade docente deve considerar a totalidade de tudo o que envolve esse processo: teoria, gestos, hábitos o etc. Nesse aspecto, ele argumenta que “a formação de um professor de filosofia [...] corresponde a toda a formação em seu conjunto” [p. 60, grifo nosso]. Ou seja, o processo é linear. Ao final do capítulo, o autor retomar a questão trans-formação para argumentar que “transformar-se em sujeito da educação, [...] pressupõe deixar de lado a tutela para converter-se em protagonista da própria formação”. [p. 64].
No sexto capítulo [Ensino de filosofia, instituições e Estado] o autor argumenta que “a relação entre filosofia, seu ensino e o Estado teve uma origem trágica: a morte de Sócrates” [p. 66]. Desse modo, pode-se perceber já uma certa tensão como elemento mediador dessa relação. A morte de Sócrates – nesse caso – mostra a complexidade que há na tentativa de compatibilizar o ensino de filosofia com as exigências próprias das instituições, o que evidentemente, não está isento de conflito, e até mesmo o conflito mortal como o foi com Sócrates. Nesse sentido, Cerletti argumenta que “a Apologia de Sócrates, de Platão, talvez seja um dos textos filosóficos que com maior força põe de manifesto a dificuldade que significa decidir o lugar institucional da filosofia.” [p. 66]. Ou seja, o que está em debate aqui é: qual é o verdadeiro lugar da filosofia? De qualquer modo, chama-se a tensão aqui para o fato de que a morte de Sócrates pode ser uma denúncia de que a sociedade da sua época não estava preparada e nem aberta para a recepção de novas formas de pensamento e, por isso, matara aquele que primeiro ousara enveredar esse caminho. De acordo com Cerletti, a resolução desse problema seria um dos alvos de Platão: “Platão tomou como seu desafio político (e filosófico) a superação desse problema, ou seja, uma pólis justa seria a que tolerasse Sócrates filosofando oficialmente.” [p. 68, grifo nosso]. Aqui há de se perguntar: o que seria, então, a filosofia de Sócrates para que o estado não a aceitasse? Pode-se argumentar aqui que a morte de Sócrates também atesta outra problemática pertinente que [se iniciando no contexto antigo] ainda persiste nos dias atuais: o fato de que o ensino de filosofia se encontra sempre obstaculizado em razão de limites que se lhe interpõe. Quase sempre esses obstáculos resultam de interesses diversos presente na esfera política, esfera esta que atravessa a educação, as instituições etc. E nesse sentido, o autor argumenta, “as instituições não são lugares neutros.” [p. 72]. Uma argumentação muito relevante do autor é quando ele diz:

Poderíamos afirmar que a “formação em valores” (cívicos, morais ou religiosos) não é o essencial do ensino da filosofia. Em todos os casos é algo que poderá ser compartilhado com as demais disciplinas. A função da filosofia na escola [...] seria a de dar ferramentas aos jovens para adaptarem-se ao mundo de hoje, mas antes mostrar diversos recursos teóricos que possam ser utilizados para pensá-lo e eventualmente transformá-lo [p. 74]

Nessa perspectiva, a função da filosofia é apensa a de fazer com que os jovens se dêem conta dos elementos aptos a fazê-lo pensar o mundo a partir dos elementos [ferramentas] que já estão postos.
No sétimo e último capítulo [Em direção a uma didática filosófica] o autor retomas algumas discussões já postas nos capítulos anteriores. Por isso esse último [capítulo] pode-se dizer, resulta como apanhado geral do livro. Entretanto, há reflexões novas, e algumas delas convêm trazer á baila. Essas reflexões dizem respeito à possibilidade de se ter ou não uma didática filosófica. De acordo com o autor, para se pensar essa didática seria preciso ter presente alguns questões:

Em primeiro lugar, considerar que a sala de aula é um âmbito em que é possível formular perguntas filosóficas com a radicalidade que elas implicam, e não um lugar em que o professor somente oferece repostas a perguntas que seus alunos não formularam. De maneira correlata, sustentar que ensinar filosofia exige a construção de um âmbito para o filosofar. [p. 81]


O autor está, portanto, sustentando e defendo um entrelaçamento entre perguntar e filosofar. Pode-se fazer aqui um trocadilho e dizer que o filosofar é fruto do perguntar sobre as coisas, o mundo etc. Sem essa atitude de questionar [que demarca a inquietação primeira] o filosofar não seria possível e assim já não se teria filosofia já que ela nasce desse processo pelo qual o indivíduo é perturbado frente a alguma coisa. Nessa perspectiva, o autor argumenta que o “o objetivo final de todo professor de filosofia deverá ser fazer de seus alunos, em alguma medida, filósofos.” [p. 81, grifo do autor]. No sentido de que ensinar filosofia não é transmitir conhecimentos, Cerletti argumenta que “o ensino de filosofia se constrói no diálogo filosófico do dia a dia”. [p. 82]. Ou seja, o processo é gradual. Para finalizar: “uma vez mais [diz Cerletti]: Ensinar filosofia é dar um lugar ao pensamento do outro”. [p. 87]. 
Ressaltamos que a argumentação do autor é boa e [ao que aparece] dar conta da problemática que ele se propõe a discorrer. Concordamos com todos os argumentos propostos, como, por exemplo, o de que: o aluno não é tabula raza; que não se transmite conhecimentos; que se recria e se repete, dentre outros.
O que chamamos a atenção é para o fato de que o autor muitas vezes é repetitivo, quando na verdade deveria ser mais “uno” em algumas argumentações. Ressaltamos também que [ao que tudo indica] em algum momento o autor aparece contradizer alguns argumentos que ele mesmo dissera antes. Um exemplo é o que diz respeito ao fato de que os conhecimentos são transmitidos ou não. Em muitos momentos ele argumenta em prol de uma transmissão dos conhecimentos. Somente no último capítulo é que ele diz consistentemente que o ensinar não tem como função transmitir. Essa talvez seja a falha do autor, mas que, jamais ofusca a grandeza do seu pensamento.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

VIRTUDE E NATUREZA HUMANA PARA KANT

PROJETO LEITURA FILÓSOFICA DO PIBID / FILOSOFIA / UFMA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA

  
PIBID / CAPES

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

SUBPROJETO LEITURA FILOSÓFICA






São Luis
2012
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“Talvez possamos dizer que a filosofia é igual às outras formas de conhecimento, porque ela é um conjunto de procedimentos da consciência humana que, ordenados de certa forma, procuram produzir respostas, o mais garantidas possíveis, para questões com as quais os seres humanos se deparam em suas vidas, ou para questões que eles se fazem quando se põem a pensar mais atentamente” (LORIERI).

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SUMÁRIO


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 1 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

 1.1  Título: Leitura Filosófica

1.2          Membros: Abiasleia Almeida, Denise Araújo, Deysielle Costa das Chagas, Fábio Coimbra, Jardelma Alves de Araújo, José Roberto Carvalho da Silva, Lídia Maria Correia Valois, Priscila de Oliveira Silva, Rafael de Sousa Pinheiro.

1.3  Instituição: Universidade Federal do Maranhão

1.4 Programa: Bolsa de Iniciação à Docência

1.5 Mantenedora: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

1.6  Escola campo: Complexo Educacional Governador Edson Lobão (CEGEL)

1.7  Supervisor da escola: Profa. Sâmia Lima

1.8 Coordenador do PIBID/Filosofia: Prof. Dr. Almir Ferreira Junior

1.9  Curso: Filosofia
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 2 INTRODUÇÃO

O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) é um programa da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) voltado, especificamente, para os cursos de graduação em licenciatura no intuito promover assim a difusão dos seus valores e dignidades enquanto partes constitutivas do processo educacional como no todo. Desse modo, é válido ressaltar que um dos intentos do programa consiste em proporcionar uma convivência maior dos graduandos com o cotidiano da função docente. Igualmente, de forma inovadora e diversificada, visa construir e apresentar propostas estimulantes e transformadoras, que possam – de algum modo (por meio de um processo de interferência) – complementar, ou atender as necessidades do processo ensino-aprendizagem das escolas da rede pública para fins de construção de uma educação diferenciada e que corresponda aos fins da educação básica tal como exposta na LDB 9394/96. Cabe ainda aqui salientar uma das características fundamentais do programa que é a de oferecer aos futuros professores a participação em experiências metodológicas e práticas docentes.
Para fins de produção de melhores resultados, o PIBID/Filosofia da UFMA composto de um total de 20 (vinte) membros (ou bolsita) dividiu-se em dois subgrupos constituídos de 10 membros que desenvolvem atividades em duas escolas da rede publica estadual de educação básica. Os dois subgrupos trabalham atualmente com dois subprojetos versando, um, sobre “Filosofia e Arte” e, outro, sobre “Leitura Filosófica”. É com este ultimo que aqui nos ocuparemos buscando precisar seus detalhas, objetivos, metodologias e fundamentos. Em suma, buscaremos lançar mão de seus pressupostos para mostrar a consistência de sua proposta.
Do ponto de vista dos primeiros resultado, o projeto “Leitura Filosófica” (que é uma proposta do subgrupo dos 10 pibidianos que desenvolve atividades no CEGEL – Colégio Estadual Governador Edson Lobão, em São Luís.) foi pensado no sentido de ser, em princípio, uma proposta de trabalho didático com “Oficina de Leituras Filosóficas”, por meio da análise de obras de filósofos e outros textos em geral, tendo como finalidade sensibilizar os alunos à prática da problematização filosófica. Esta proposta surgiu após observações e aplicação de questionários em sala de aula, com objetivo de analisar a relação dos alunos com as aulas de filosofia dentre outras metas. Então, a partir do diagnóstico percebeu-se que para os alunos daquela escola (CEGEL), as aulas de filosofia parecia algo estranho a sua realidade. Nesse sentido, levantou-se a hipótese de que a razão disso (ou uma das) devia-se à carência de leitura e de reflexão suficiente – por parte dos alunos – para perceber que a filosofia não dista de suas realidades e que, portanto, se bem trabalhada, não deve aparece algo estranho. Nessa perspectiva, o grupo “Leitura Filosófica” decidiu rever e reformular a sua proposta de trabalho. Após varias discussões, a proposta foi amadurecida e, finalmente, ampliada.
Expandida sua meta, o alvo do grupo passou a ser uma proposta de leitura filosófica a cerca de múltiplos elementos como, por exemplo, textos, músicas, vídeos, filmes, etc. Desse modo, a proposta do grupo transcendia uma simples atividade de leitura de textos filosóficos, os quais, descontextualizados, implicam em peso para os alunos que – não tendo vivido ainda uma profunda experiência conceitual com os textos e a história da filosofia – acabam muitas vezes por não entender nada (o que não deixa de ser uma das razões pela quais eles concluem pelo distanciamento entre a filosofia e suas malhas sociais).
Dados esses entraves, uma das primeiras preocupações do grupo “Leitura Filosófica” consistiu em reverter esse quadro. Para isso procurou-se tomar como apoio os pensadores, ou teóricos do ensino da filosofia no ensino médio. Uma das propostas que aqui cabe destacar é a de Silvio Gallo que propõem a organização da aula de filosofia em quatro momentos, sendo que cada um se constitui como pré-requisito para o outro. O primeiro é a sensibilização, o segundo, a problematização, o terceiro a investigação e, o quarto, a conceituação. Pela proposta de Galo, o texto só entra no ultimo momento da aula de filosofia. Ou seja, o texto é (ou deve ser) apenas uma forma de complemento a reflexão e ao aprendizado. Se bem trabalhada, a proposta de Gallo pode fazer aparecer efeitos positivos e imediatos. Cremos que um dos nossos atuais desafios é justamente o de por isso em prática. Para tanto, não podemos perder de vista as metodologias vigentes, isto é, as atuais e mais utilizadas. Igualmente relevante é mantermo-nos a par dos novos resultados dos pesquisadores dessa linha. Certamente é grande o nosso desafio que, nem por isso, abate nossos ânimos.


Afirma-se constantemente que o surgimento da filosofia se dá no espanto, o thaumázein grego. No entanto, como questiona Silvio Gallo e Walter Kohan, esse tipo de afirmativa se torna inadequada numa sociedade espetaculosa, onde o espanto está mais para uma ferramenta de consumo do que para uma “expressão de uma subjetividade privilegiada admirada perante o espetáculo do mundo”.
            Vivemos numa sociedade massificada, marcada pelos avanços tecnológicos e pela atuação da mídia que tem contribuído para transformar o espanto em rotina. Mas o que esse mercado de consumo ainda não conseguiu fazer foi acabar com a insatisfação perante o estado de coisas.

Há uma linha comum na origem do filosofar socrático-platônico e o que leva muitas pessoas à filosofia: algo não está bem na ordem social; há mal-estar e insatisfação diante de nossa vida em sociedade. (GALLO; KOHAN, 2000. p.187)

É nessa insatisfação com a aparente ordem social que está a raiz do filosofar, enquanto ato de pensar a partir de uma inquietação dada. Diante deste aspecto, a filosofia (enquanto produto do espanto e do filosofar) assume um papel transformador à medida que sua construção pressupõe uma atividade de pensamento crítico através do qual tudo é questionado. É nesse ensejo que se faz necessária uma leitura filosófica (leia-se uma leitura crítica) da realidade.
Pensada dentro dos parâmetros pedagógicos do ensino da filosofia no ensino médio, essa prática de leitura filosófica assim pensada vem à luz como uma meta a ser implantada, ou somada às que existem. Ademais, cremos que essa implantação porta um caráter revolucionador à medida que modifica a estrutura de percepção do mundo e da realidade. Desse modo, acreditamos que é justamente nesse aspecto que a proposta de leitura filosófica e quanto reflexão crítica (ou, talvez, sua implantação) se nos mostra aqui como revestida de um desafio a ser superado.
Movidos pelo desejo de colaborar na construção de um processo ensino-aprendizagem voltado à aquisição de um aprendizado consistente, foi que pensamos em um trabalho voltado para a leitura filosófica não só de textos filosóficos, mas também de uma série de elementos que vão da música ao cinema, como forma de interpretação da realidade.


2.1 OBJETIVO GERAL: Desenvolver prática de leituras como experiências de reflexão filosófica.

  2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Ø  Ler textos filosóficos de modo significativo;
Ø  Ler de modo filosófico textos de diferentes estruturas e registros, bem como músicas, filmes, etc;
Ø  Estabelecer a interação entre a leitura filosófica e a realidade do aluno. 


O PIBID tem por finalidade colher resultados relevantes em relação ao processo ensino-aprendizagem em Filosofia no Ensino Médio. Desse modo, esta proposta de trabalho endossa a concepção de que o entendimento da realidade do aluno se constitui (ou pode se constituir) como ponto de partida fundamental em direção à meta que se pretende atingir. Neste sentido, exaltamos e buscamos lançar mão de algumas teorias educacionais. Uma delas é a pedagogia kantiana, a partir da qual percebe-se que educar não é uma ação que convém a todos, mas, especificamente, àqueles que portam aptidões necessárias para entrar na alma do aluno (leia-se – aqui –: o mundo do aluno, o seu contexto histórico existencial, sua realidade, seus conflitos, suas alegrias e suas tristezas). Em outros termos (e em analogia) significa isto que o mundo do aluno é como uma casa de portas fechadas na qual só pode entrar aquele que está em posse da chave que lhe abre as portas.
Além das referidas acima, julgamos também relevante – para fins de enriquecimento da proposta de leitura filosófica – as questões referentes ao ensino de filosofia tal como tratadas por Alejandro Cerletti em sua obra O ensino de filosofia como problema filosófico, na qual discorre sobre a implementação de alguns recursos didáticos planejados no sentido de facilitar a atividade docente. De acordo com ele, “o ponto de início será refletir sobre o problema que está na base: o que se entende por ensinar filosofia [...]”. Cremos que a discussão referente a esse problema está apta a ajudar na elaboração de melhores propostas de trabalho na medida em que potencializa a construção de uma concepção ou de um significado para o ensino de filosofia, neste caso, no ensino médio.
À medida que o PIBID incentiva à docência, consideramos digna de apreciação a concepção de Cerletti segundo a qual, “ensinar implica assumir um compromisso e uma responsabilidade muito grande, [e que] um bom docente será aquele que se situa a altura dessa responsabilidade [...].” e ainda, “[que] os melhores professores são aqueles capazes de ensinar em condições diversas”. Significa isso que terão que repensar sempre “no seu dia a dia os próprios conhecimentos”. Acreditamos essas interpretações contemplam não somente a proposta de leitura filosófica (na medida em que se propõe auxiliar os alunos na interpretação e compreensão de suas realidades), mas também todo o PIBID em seu propósito de incentivo à docência.
Complementarmente, dispomos de outras relevantes referências teóricas, das quais não podemos aqui abrir mão. Entre estas destacamos Walter Kohan (já referido), Marilena Chauí e Silvio Gallo (também já referido) dentre outros. Trata-se de estudiosos da área da educação, indubitavelmente, aptos a contribuir para o enriquecimento do projeto Leitura Filosófica, na medida em que pretende instigar o aluno a fazer uma leitura crítica da realidade que lhe circunda. A leitura crítica (ou filosófica) aqui referida não se trata apenas de uma leitura de simples textos. É, além disso, ler tudo que lhe demonstra sentido, como por exemplo, um filme, uma imagem, uma situação, uma história ou estória, uma música, e assim por diante. Não mantemos, portanto, o foco na mera explicação de conteúdos, mas sim no estabelecimento de uma relação destes com a realidade dos alunos. Nesse sentido, Kohan (2009, p. 24) – apontando Sócrates como modelo de professor de filosofia – refere que “[...] este não concebe a filosofia como um saber, mas como uma relação com o saber, com base na qual uma série de práticas pode desenvolver-se”.
Dado que a proposta de leitura filosófica constitui – em sua essência – um esforço empreendido no sentido de superar o distanciamento que há entre a filosofia e a realidade dos alunos (tal como diagnosticado), aportar-nos-emos em alguns pressupostos hermenêuticos (especificamente ricoeurianos) para sustentarmos a idéia de que é na superação dessa distância – que medeia o contexto do autor e a do leitor – que o texto escrito a tanto tempo pode ter sentido para o aluno. Desse modo, cumpre ressaltar que a proposta de leitura filosófica não exclui a atividade interpretativa uma vez que a leitura nunca deixa de ser uma forma de interpreção. E, sendo assim, o projeto vale-se também do método hermenêutico.
É válido lembrar que o leitor – ao entrar em contato com o texto – traz consigo suas experiências, vivências, convicções, enfim, sua bagagem intelectual, que lhe servirá de base para a compreensão da mensagem. Em contrapartida, o autor também imprimiu no texto suas vivencias. Nessa perspectiva, ler é nada mais que um empreendimento no intuito de aproximar dois mundos diferentes em que um não anula o outro, como esclarece Roger Chartier (1996, p. 78): “[ler é] antes de mais nada dá a leitura o estatuto de uma prática criadora, inventiva, produtora e não anulá-la ao texto lido, como se o sentido desejado por seu autor devesse inscrever-se no espírito de seus leitores”. Cabe ressaltar que estar no mundo é estar submetido a uma praticar de leitura que se faz constante. Pois, a cada instante é necessário refletir, adquirir novas ideias, reforçar ou abandonar convicções, o que fazemos tanto pelo uso da razão quanto da imaginação.
Cumpre destacar que em nossa proposta de leitura filosófica não julgamos fidedigna e nem relevante a necessidade de doutrinar os alunos com filosofias. Antes, apraz-nos a ideia de auxiliá-los na busca, ou na construção, daquilo que – em sentido próprio – denominamos autonomia. E isto, sem dúvida, confere sentido da filosofia na prática educacional.
Para fins de esclarecimento, convém precisar que o que chamamos aqui de autonomia é, para melhor compreensão, o caráter voluntário e participativo do aluno. A participação do aluno é um dos grandes desafios da “Leitura Filosófica”, é uma constante em nossas atividades, e por isso precisamos situar o aluno no seu lugar enquanto indivíduo que tem algo a dizer, para – a partir de suas experiências – podermos dar início ao processo de reflexão. E isso só é possível num ambiente democrático, onde não há inibição de nenhuma das partes.
Desse modo o aluno precisa estar livre para dizer “não”, numa postura negativa ao senso comum. Esta postura “negativa” é denominada por CHAUÍ (2000) de primeira fase da postura crítica filosófica; a segunda postura é a chamada “positiva”, isto é, uma indagação sobre o que são as coisas, os fatos, os valores, etc. Nessa perspectiva, Chauí (2000, p. 9) refere:

Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica. (grifo da autora).

É valido dizer que o que se busca com este projeto de Leitura Filosófica é muito mais que aquilo que aqui poderíamos chamar de uma simples decodificação de signos e interpretações de mensagens. Para alem disso, pretende-se uma leitura de mundo, ou seja, de tudo aquilo que está direta ou indiretamente relacionado à vida cotidiana. Assim, a prática de leitura que propomos aqui constitui um projeto audacioso na medida em que – transcendendo os textos – se propõe a ser também uma proposta de leitura de poemas, de um quadro, uma ilustração dentre outros. Desse modo, o que se busca é nada mais que a criação de circunstâncias favoráveis para que o aluno se dê conta da relevância da filosofia ao entendimento do seu cotidiano e de si à medida que lhe possibilita uma auto compreensão enquanto individuo singular e social. Esta leitura pode se dar tanto na escola, quanto em casa vendo o noticiário, lendo uma poesia, assistindo a um filme, ou escutando uma musica. É nesse contexto que se faz possível uma leitura critica da realidade por parte do aluno na medida em que pensa sobre ela. Será justamente nesse aspecto que o projeto Leitura Filosófica cumprirá os objetivos e metas a que se propôs perseguir. 
Em suma, vale aqui referenciar Kant: “não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar”. E ainda, “os alunos devem ir à escola não para aprender pensamentos dos outros, mas para aprender a pensar”. Certos de que um dos objetivos da educação é formar o cidadão para a vida em sociedade, mover-nos-emos pelo princípio de que a filosofia – em sendo aqui uma leitura de mundo – tem muito a contribuir no que a isso diz respeito. Destarte, percebe-se que o conceito de leitura – tal como apresentado – é amplo e não se restringe a um determinado ato.

 6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Tomar-se-á como ponto de partida, uma pesquisa bibliográfica e leitura sistemática, de autores que trabalhem a questão da “Leitura Filosófica”, bem como, de material didático e quaisquer outros pertinentes ao tema proposto. Nesse sentido, as estratégias de pesquisa se desenvolverão, em princípio, com base em livros, artigos, material da internet, monografias, e outros documentos relacionados a essa temática.
Posteriormente, a metodologia consistirá em uma intervenção por meio da aplicação de textos, músicas, dinâmicas, vídeos e ilustrações que estejam sempre relacionados com o conteúdo de filosofia a ser trabalhado em sala de aula.
Através destes aplicativos, buscaremos artifícios que possam levar os alunos ao exercício reflexivo e prático da leitura filosófica a partir de uma compreensão transformadora da atividade do pensar para além da sala de aula, ou seja, praticar a leitura que os façam perceber elementos que estejam diretamente no seu próprio convívio social. Desse modo, para fins de enriquecimento metodológico, tomaremos como apoio duas etapas iniciais do método do filósofo educador Sílvio Gallo, a saber, a sensibilização (momento essencial na atividade do pensar filosófico e que prepara os alunos para a etapa posterior) e a problematização (momento em que se objetiva transformar o tema da aula em problema, no intuito de promover a participação dos alunos a partir de questionamentos por eles suscitados). Nossa estratégia – ao lançar mão desses elementos – será promover uma articulação entre os conteúdos trabalhados em sala e o contexto existencial dos alunos para que eles vejam que a filosofia não é algo tão distante assim de suas realidades.
Cumpre ressaltar que o método de estudo utilizado durante o desenvolvimento desse projeto pode ser denominado de método hermenêutico. Consiste este na interpretação de obras (textos, músicas, dinâmicas, vídeos e ilustrações) escolhidas de acordo com as questões propostas, as quais venham fundamentar o tema e elucidar as questões abordadas ao longo do desenvolvimento do mesmo.


Centro de Ensino Governador Edson Lobão – CEGEL
Professora (Supervisora): Sâmia Lima
Plano de Curso – Filosofia - 1° Ano matutino


1.    Atitude Filosófica;
2.    O que é Filosofia;
3.    A origem da Filosofia;
4.    Períodos e campos de investigação da filosofia grega;
5.    Principais períodos da História da Filosofia;
6.    Aspectos da Filosofia Contemporânea;

7.    Os vários sentidos da palavra;
8.    A atividade racional e suas modalidades;
9.    A razão: inata ou adquirida?
10. A razão na Filosofia Contemporânea;
11. Ignorância e verdade;
12. Buscando a verdade.

 REFERÊNCIAS
  
CHARTIER, Roger. A história ou a leitura do tempo. Tradução de Cristina Antunes. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

__________. Práticas da Leitura. Trad. Cristiane Nascimento. São Paulo: Estação Liberdade, 1996.

_________. Os livros resistirão às tecnologias digitais.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: História e grandes temas. São Paulo: Saraiva 2006.

FABBRINI, Ricardo Nascimento. O ensino de filosofia: a leitura e o acontecimento.

GADAMER, H. G. Arte y Verdad de la Palabra. Vilard: Paidos Iberica, 1998.

GALLO, Sívio; KOHAN, W. Omar (org.). Filosofia no ensino médio. Petrópolis: Vozes, 2000.  

GOMES, Erick Vinicius Santos. A educação na ética kantiana. In: Filosofia: Ciência & Vida, nº 32, ano 2009, p. 8-15.

LORIERI, Marcos Antônio. Filosofia no ensino fundamental. São Paulo: Cortez, 2002.

RICOEUR, Paul. O Conflito das Interpretações: ensaios de hermenêutica.
Lisboa: Rés Editora, 1988.

SALOMON Marlon Jeison. Roger Chartier e a Atualidade da Ciência.

SILVEIRA, Renê J. T; GOTO Roberto (orgs). Filosofia no Ensino Médio: temas, problemas e propostas. São Paulo: Loyola, 2007. (Coleção filosofar é preciso)

SOARES, Magda. NOVAS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA: letramento na cibercultura.

SOUZA, Thaís, Rodrigues de. O ensino de filosofia e a viabilidade do uso de textos filosóficos no nível médio.

STRIQUER, Marilúcia dos Santos Domingos. O MITA DA CAVERNA: uma leitura semiótica proposta a alunos do ensino médio.

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Os autores


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ABIASLEIA COSTA ALMEIDA
Graduanda do sétimo período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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DENISE ARAÚJO
Graduanda do oitavo período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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DEYSIELLE COSTA DAS CHAGAS
Graduanda do quarto período em Filosofia pela universidade Federal do Maranhão

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FÁBIO COIMBRA
Graduando do sétimo período (fatorial) em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão
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JARDELMA ALVES DE ARAÚJO
Graduanda do oitavo período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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JOSÉ ROBERTO CARVALHO DA SILVA
Graduando do quarto período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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LÍDIA MARIA CORREIA VALOIS
Graduanda do oitavo período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão; é bolsista do PIBIC e bolsista voluntária do PIBID
E-mail: lidiavalois@hotmail.com


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NATHALIA SALAZAR
Graduanda do oitavo período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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PRISCILA DE OLIVEIRA SILVA
Graduanda do quarto período em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão

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RAFAEL DE SOUSA PINHEIRO
Graduando do sexto período (fatorial) em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão